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Escadas Rolantes

Na minha terra costuma dizer-se: Quando a merda chega à ventoinha, ficam todos cagados!

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Na minha terra costuma dizer-se: Quando a merda chega à ventoinha, ficam todos cagados!

19
Nov19

A MORTE NUNCA EXISTIU

escadas

Tal como a maioria dos meus amigos da altura, com excepção talvez daqueles cujos pais tinham actividade política, nenhum de nós tinha uma cultura musical digna desse nome. Em Abril de 1974 o meu universo musical resumia-se aos Genesis, Mike Oldfield, Black Sabath e Pink Floyd. Quanto a música portuguesa…NADA!

Uma semana após a revolução, um casal que vivia mesmo ao lado dos meus pais convidou-me para ir lá a casa ouvir umas músicas novas. Foram eles que me mostraram pela primeira vez o álbum “Margem de Certa Maneira” do José Mário Branco. Não será exagero dizer que nos dias seguintes devo ter ido lá a casa ouvir o disco mais de 20 vezes. Até ter gravado uma cassete com o dito disco, era esta a minha rotina diária: chegar do liceu, arrumar a mala e ir par casa deles ouvir José Mário Branco. Havia qualquer coisa naquela dialética que me inspirava, talvez fosse a musicalidade a imprevisibilidade das melodias…

Foi com José Mário Branco que aprendi termos como “Luta de classes” “justiça e igualdade” e “serventio a trabalhar” e por isso também eu lutei para meter um pauzinho na engrenagem por que queria ter companheiros de viagem.

Depois da “Margem de Certa Maneira” veio o “Mudam-se os Tempos Mudam-se as Vontades” (apesar de ser anterior) e com ele todo um novo mundo, que incluía o Sérgio Godinho, Zeca Afonso, o Adriano Correia de Oliveira e o António Carlos Jobim. Foram dias, semanas, meses, em que amadureci muito. Apaixonei-me por aquelas letras por aquela poética amarga e notoriamente escrita por pessoas que tinham sofrido, coisa que eu também não fazia ideia o que era: sofrimento!

A música de José Mário Branco acompanhou toda a minha vida. As cassetes com a discografia dos Genesis passou a ter sempre como companhia estes dois álbuns, cresci com eles. Naqueles meses de 1974 estava longe de pensar que um dia mais tarde viria a conhecer e a trabalhar com ele(s). De facto em 1990 fui convidado pelo próprio a criar o logotipo da UPAV “União Portuguesa de Artistas de Variedades” que tinha à frente além do Zé Mário, o Carlos do Carmo. Na altura produzi uma caixa de discos, tipo colectânea da qual faziam parte a Dina a Maria Guinot o Jorge Lomba, a Alexandra e obviamente o Zé Mário e a Manuela de Freitas.

A UPAV era uma espécie de agência de artistas que visava promover a carreira artística dos seus associados. Carlos do Carmo e o Zé Mário Branco depositavam muita fé neste projecto e posso afirmar que me tirou muitas horas de sono; era o meu ídolo que ali estava, a minha bandeira, apesar disso nunca lhe confessei a profunda admiração que sentia por ele.

Faz parte da minha lista de coisas a fazer antes de me reformar, realizar um programa de rádio onde possa passar o seu “FMI”, se não sabem do que estou a falar, procurem no youtube e deliciem-se com uma das obras primas da música portuguesa! A obra de José Mário Branco era como um filme, imprevisível, belo, apaixonante e esta paixão cativa quem o ouve. Ainda hoje quando preciso de me animar coloco o som bem alto e ouço “A Cantiga é Uma Arma” do “GAC”, aliás este tema motivou a autoria (em colaboração com o Viriato Telles) a produção (e a apresentação já agora) de um programa gravado ao vivo no Largo do Carmo em Lisboa, que a RTP emitiu em 1997 e que assinalou as comemorações da Revolução de Abril de 1974.

Este é o melhor elogio que posso fazer nesta altura à memória e à obra de José Mário Branco: quando a minha filha nasceu, elaborei uma play list de músicas para a acompanhar à noite e a ajudar a adormecer. Uma dessas músicas era a “Ronda do Soldadinho”.

 

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