“Mais do que em qualquer outra época, estamos hoje numa encruzilhada. Um dos caminhos leva à catástrofe e ao mais terrível desespero. O outro, leva à extinção total. Vamos rezar para que façamos a escolha certa".
Esta citação de Woody Allen, é o ponto de partida para a reflexão que vos proponho hoje.
Há coisa de 3 anos, mais ou menos, fomos invadidos com a ideia de que o Mundo tal como o conhecemos, estaria em risco de acabar. As crianças deixariam de brincar, as flores de crescer e até as promoções do Pingo Doce corriam o risco de desaparecer. A única solução para este holocausto civilizacional, estava na administração massiva da vacina da gripe A!
A esperança de toda uma civilização, residia, na picada mágica de uma solução aquosa, produzida algures num laboratório de produtos farmacêuticos.
Sucederam-se as campanhas de sensibilização, e em menos de nada, Portugal foi inundado por pequenas caixas de plástico que continham um líquido azul, próprio para lavar e desinfectar as mãos, sempre que estas estavam em contacto com o ar ou com outros seres igualmente promíscuos. Os Centros de Saúde transformaram-se em SAG (Serviços de Atendimento à Gripe), criou-se um gabinete de crise que dava Conferências de Imprensa diariamente e os números da catástrofe eram actualizados de hora a hora. O espirro estava na ordem do dia e todo um País foi mobilizado, para este desígnio internacional e que visava fazer frente a essa calamidade planetária.
Só o Estado português foi obrigado, sim obrigado, a comprar 3 milhões (numa primeira fase, 6 milhões no total) de vacinas num montante aproximado de 45 milhões de euros!
Bem…passados 3 anos, veio a saber-se que afinal tudo não passou de um erro de cálculo, de uma má interpretação dos dados, de uma análise exagerada, enfim… uma trapalhada.
Resultado desta “embrulhada”, deste embuste: qualquer coisa entre 330 a 500 milhões de euros e ainda a redução do Produto Interno Bruto (PIB) nacional entre os 0,3 e os 0,45 por cento, ou seja, entre 490 e os 740 milhões de euros.
Dois anos depois desta constipação nacional, os portugueses acordaram um dia de manhã com a campainha da porta a dar sinal de vida.
Estremunhados e ainda com os olhos cheios de ramelas, sinal de que a noite tinha sido agitada, os portugueses, lá foram ver quem era. Debaixo da soleira da porta estava um grupo de senhores de fato e gravata, que transportavam meia dúzia de folhetos debaixo do braço e uma mala a tiracolo.
Somos portadores de uma mensagem divina, foi a frase que despertou definitivamente os pobres portugueses.
Os portadores da “boa nova” encheram a cabeça dos incautos, com promessas de um Mundo novo, no qual o “demo” não fazia parte. Um Mundo no qual a gula e a devassa eram substituídas pela abundância e a prosperidade.
Promessas de Vida eterna, num Mundo laranja é certo, mas sem deixar de ser eterno!
Os portugueses deixaram-se catequisar por esta promessa de viver para sempre no paraíso terrestre e entregaram todos os seus bens, para administração suprema!
Uma vez mais (esta malta não aprende) e em menos de um ano, os portugueses constataram que tinham sido enganados, perceberam que esta nova “religião” mais não era do que uma modesta e fraca representação onírica de um grupo de gentios, ansiosos por ocupar um qualquer “altar-mor”.
E como não há duas sem três, temos a história final da formiga e da cigarra!
Como todos devem estar lembrados, a receita aplicada a Portugal e preconizada por todas as grandes sumidades nacionais e internacionais, para combater o “elevado” défice, foi e continua a ser, o aumento da carga fiscal, como forma de diminuir rapidamente um suposto buraco orçamental.
Curiosamente, foi a mesma Europa que em 2008 propôs aos estados membros que aumentassem a divida publica por forma a concentrarem as energias no investimento público, como forma de combater o desaceleramento económico, o desemprego e a bolha inflacionária que então atravessava a europa. Portugal assumiu esse desígnio, tal como a Espanha, Itália, França, etc. Mas isso é matéria para outra reflexão!
Voltemos à nossa estória. Em 2011 e em plena escalada da especulação financeira, os técnicos europeus, assumiram que o problema português estava no elevado défice e na consequente falta de credibilidade dos ditos “mercados”.
Solução? Cortar, cortar, cortar!
Pouco mais de um ano depois, Portugal assiste a uma das maiores crises económicas e sociais de sempre. A diferença entre razão de ser e razão de existir, limita-se a uma mera linha estatística e as contradições sucedem-se a um ritmo nunca visto. O que hoje é IMI,. Amanhã já é IRS, se hoje é TSU para a semana é INE e por aí adiante…
Mas alegrem-se as mentes mais incrédulas, os senhores do FMI já vieram dizer que afinal se enganaram. Sim enganaram-se!
E agora?
Fazemos rewind ao sistema?
Vamos ser indemnizados?
Os responsáveis pelos erros vão assumir as culpas?
E de uma vez por todas, vamos deixar de acreditar em histórias da carochinha?
Chegou a hora de começarmos a pensar pela nossa cabeça.
Nesta encruzilhada, a opção não pode ser entre uma “mão cheia de nada” e uma “cheia de coisa nenhuma”.
Tem que haver uma alternativa, e essa começa por sermos nós a trilhar o nosso próprio caminho, sem equívocos, sem enganos!
De uma vez por todas, façamos a escolha certa!