A Chave de Hiram
Passavam poucos minutos das 23:00 horas.
Aquela noite do dia 21 de Novembro de 2014, estava a ser particularmente proveitosa. Já tinha lido e relido vezes sem conta a minha Tese de Mestrado que iria defender 3 dias depois. A estratégia estava afinada e, pensava eu, nada poderia acorrer mal, era o culminar de longos meses de investigação, de leituras académicas, de discussões nem sempre pacíficas e de muita perseverança!
O “ruído de fundo” estava como sempre na SIC Notícias, e aqueles foram momentos que jamais esquecerei. Em rodapé, passava a informação: "Sócrates detido no Aeroporto da Portela".
À paralisia momentânea, sucedeu-se a perplexidade do momento, e a conclusão lógica de quem acaba de levar um valente murro no estômago – A defesa da tese iria ser adiada, é que há um pormenor que na altura apenas alguns sabiam; o tema da minha investigação era precisamente…JOSÉ SÓCRATES!
“As chaves de Hiram, O agendamento dos media e o condicionamento da opinião pública na crise política de 2011” foi o tema escolhido para concluir o meu mestrado em Ciências da Comunicação, Cultura e Tecnologias da Informação. Obviamente que o meu “drama” estava longe, muito longe, do drama que José Sócrates estava a viver naquela altura, mas a minha intenção inicial foi mesmo a de adiar a coisa. Amigos comuns aconselharam-me a não o fazer e vendo bem as coisas, ainda bem que segui em frente.
Como militante socialista que sou, segui escrupulosamente as orientações dadas pelo Secretário-Geral do PS, António Costa, relativamente à detenção de José Sócrates.
Durante todo este tempo, nunca me pronunciei sobre o caso; à justiça o que é da justiça, à política o que é da política. Não encontrarão nos meus escritos, nem uma só palavra sobre a detenção mais polémica de sempre ocorrida em Portugal.
Entendi que tal como disse António Costa, se deveria evitar a todo o custo, contaminar a campanha eleitoral (e esse foi desde o inicio a intenção da direita portuguesa como se viu no primeiro debate entre Passos e Costa), com outros assuntos que não os estritamente necessários, e estes eram, claro está, as propostas politicas do Partido Socialista.
Os meus dilates, confinaram-se a um pequeno círculo de amigos!
O guião desta autentica novela mexicana, nunca foi novidade para mim, li e escrevi sobre ela mesmo antes dos acontecimentos ocorrerem.
Era pois óbvio, que passado o acto eleitoral que ditou a vitória da direita, a prisão de Sócrates se tornava completamente desnecessária, seria portanto uma questão de dias. Foi hoje!
Conheço Sócrates há muitos anos, trabalhei com ele, fiz campanha com e por ele!
Tenho por ele uma admiração que poucos compreenderão (às vezes até eu), e como tal permitam-me que me reserve em mais considerações.
Este texto não serve de justificação seja para o que for, não preciso de o fazer, mas agora que podemos todos respirar um pouco mais de ar puro (ou menos poluído), é altura de fazermos todos uma retrospectiva e questionarmos a justiça que alguns teimam fazer em Portugal.
Não foi para isto que muitos portugueses deram a vida.
Não foi para isto!