O DESMORONAR DE UM MITO
Não há nada pior que alimentar uma imagem ao longo de anos, para um dia, quando menos se espera, um “inteligente” resolver dar-nos cabo da ilusão que tão apaixonadamente alimentamos ao longo dos anos.
Um dos meus filmes de eleição é, como é fácil de se perceber, o “Casablanca”. A obra imortal de Michael Curtiz tem-me feito companhia nos bons e maus momentos e servido de inspiração para alguns “desarrancanços” [1] políticos (sim… o segredo foi revelado).
Não sei porquê, mas o contraste do preto e branco, envolto na penumbra, quer do fumo dos cigarros, quer do próprio nevoeiro, é uma imagem que me seduz e me inspira. Por isso quando em 1987 Ted Turner resolveu estrear a versão a cores no seu WTBS, achei que este supremo disparate um dia haveria de ser castigado e jurei que não asistiria a tamanha heresia.
Errado! Dois meses mais tarde já tinha o DVD e assistia ao meu “end of the world as we now it”.
Resultado, ainda hoje tenho pesadelos com o casaco castanho de Humphrey Bogart, que para mim era (e continua a ser) cinzento!
Enfim…
Por hoje ser o dia do beijo (para mim é todo os dias entenda-se), fui à procura de outra grande referência da minha infância, a celebre fotografia do VJ Day ( o dia em que os japoneses capitularam perante os Estados Unidos) em Times Square.
Já tive postais, “quadrinhos”, quadros e posters de todo os tamanhos, daquele momento arrebatador e que para mim enquanto jovem inconsciente e à procura do caminho certo, significava a força incontrolável da paixão, o impulso certo que leva à conquista.
Pensem comigo; a ideia de ir por uma qualquer avenida, encontrar uma enfermeira de bata branca, que nunca se viu nem mais gorda nem mais magra, de repente puxa-la para nós e beija-la como se não existisse amanhã, é uma ideia que deixa qualquer um á espera do dia de amanhã!!!
Alfred Eisenstaedt imortalizou este momento no dia 14 de Agosto de 1945, mas há uma outra versão desse mesmo dia e eventualmente do mesmo casal, retratada por um outro fotógrafo, Victor Jorgensen.
Talvez porque a primeira tenha saído na revista LIFE e a segunda não, vá-se lá saber porquê, a verdade é que apenas a primeira alcançou a imortalidade alcançada pelos postais ilustrados e posters gratuitos das revistas “BRAVO” !
Bem… andava eu à procura de uma boa replica da famosa imagem, quando de repente, o fantasma de Casablanca, a alma penada de Humphrey Bogart, envergando casaco castanho, voltou a assombrar-me.
Então não é que alguém se lembrou de photoshopar a obra-prima da minha adolescência????
A seguir vem o quê? O “Pátio das Cantigas” em versão 3D? O “Grande Ditador” em CINECOLOUR???
...e que tal irem brincar com aquelas coisinhas (quiçá pequeninas) com que nasceram e deixarem as minhas referências de infância em paz???