A MORTE NÃO MORRE SOLTEIRA! (deixem-me ouvir os vosso corações)
A solidariedade não se apregoa, PRATICA-SE!
Coisa que a maior parte dos políticos desta nova geração não faz a mínima ideia do que isso é.
Ser solidário é olhar para o lado e importar-se com o que se vê e não descansar enquanto essa situação não mudar.
Ser solidário é estender a mão, mesmo que a outra esteja suja.
Bem sei que isto parecem palavras vãs, mas acreditem qua há pessoas assim.
Algumas dessas pessoas optaram por ser políticos. Decidiram que a sua vocação era servir a sociedade e lutar por ela, por aqueles que não têm voz.
Tive a felicidade de conhecer algumas dessas pessoas. Tive a felicidade de partilhar a minha vida com algumas dessas pessoas.
Já o disse várias vezes; aquilo que sou hoje, devo-o muito, a essas pessoas. Foram elas que me ensinaram a olhar para o lado, a partilhar e sobretudo a lutar.
Nunca mais me esqueço da primeira noite que passei no Largo do Rato, foi em 1985. O PS tinha sido derrotado em toda a linha. O desânimo era total. Naquela noite, ninguém se aproximou de nós para uma simples palavra de alento. O Júlio Isidro era o único que se mantinha firme e que se tinha mantido perto de toda a equipa; "cumprimos com o nosso dever, demos o nosso melhor"!
Olhando agora para trás, até parece que as coisas foram todas muito fáceis, simples até.
Mas não foram. Ser-se amigo de todas as horas não é fácil, é quase um desígnio até. Ter o telemóvel disponível para atender uma voz desesperada e em busca de auxilio, é algo que nós sabemos não estar ao alcance de todos.
O nosso sofá é bem mais confortável que as desgraças alheias!
Por exemplo. Uma certa tarde, já nem me lembro do ano, este vosso amigo lembrou-se de abrir o microfone e perante um Coliseu dos Recreios a rebentar pelas costuras, proclamar a frase: "o facto das OGMA terem reparado helicópteros indonésios é um verdadeiro atentado à pátria"! Na altura a coisa resultou muito bem, o Coliseu até parecia que vinha abaixo, o pior foi no dia seguinte quando o Pacheco Pereira, na altura deputado do PSD, se lembrou de tirar fotocopias da primeira página da Capital que trazia a letras gordas a frase que eu tinha proferido na véspera. A Assembleia da Republica entrou em efervescência e o António Guterres que naquela tarde se encontrava no largo do Rato, teve que ir de urgência para o hemiciclo para pedir desculpas em meu nome por aquilo que tinha sido dito!
Naquele final de tarde, vomitei tudo o que tinha e ... não tinha. A bílis veio cá acima mostrar de cor era feita, várias vezes.
Só duas pessoas me mostraram solidariedade naquele dia. Uma foi o Joaquim Raposo, a outra foi Jorge Coelho.
Se me arrependo do que disse naquele domingo? sinceramente não. Se fosse hoje provavelmente teria dito a mesma coisa.
Verdade seja dita que nunca ninguém se lembrou de supervisionar os meus textos antes de os reproduzir ao microfone.
Já com Sócrates como secretário Geral do PS, entendi que devia colocar à consideração das pessoas que coordenavam o seu gabinete, um texto que acabara de redigir. O Pedro Silva Pereira foi o primeiro (e único) a dar a sua opinião. Não leu e respondeu-me: "era o que faltava!" Depois disso senti-me legitimado para não questionar mais ninguém.
Mas voltando a Jorge Coelho.
Só quem privou com ele, pode perceber o que significava, conviver com ele.
O Jorge era muito mais que um político, era um amigo, daqueles que a gente tem prazer em convidar lá para casa para comer uma chouriça assada, ou para o batizado do filho!
Por estes dias, muitos se vão lembrar das suas frases emblemáticas, tipo "quem se mete com o PS...leva", mas eu prefiro recordar a sua faceta mais dócil, afável e introspetiva.
Na noite em que o PS ganhou as eleições com António Guterres, fizemos a viagem de carro desde o Altis até à Torre de Belém; eu ele e o Pina Moura. Á nossa espera estava o Nuno Teixeira, que tinha andado na "estrada" com toda a equipa. Foi uma viagem épica, desde o Hotel Altis até Belém, parecia que estávamos todos embriagados, mas eu juro que nenhum de nós bebeu uma pinga de álcool!
lamentavelmente, destes protagonistas todos e que representam muito do meu legado, o único que ainda cá está sou eu.
Tenho muitas e boas memórias do Jorge.
Conhecem algum ministro que estaria disposto a assumir uma culpa que não era sua e com isso anunciar a sua demissão enquanto ministro de estado?
É por estas e por outras que eu digo aos meus filhos:
"sejam o que quiserem ser. Lutem por isso, e quando se olharem ao espelho sejam um Jorge Coelho"
Para mim foi um privilégio ter partilhado parte da minha vida com o Jorge e sei que comigo estão muitos outros amigos que tiveram essa felicidade.
Obrigado Jorge!