The Repair Shop
O período de férias é para mim uma oportunidade para conhecer novas coisas, novas cores, sabores e culturas.
Uma das formas que privilegio para ir ao encontro deste desiderato, é…ver televisão!
Normalmente quando estou no estrangeiro, aproveito os fins de tarde para passar em revista as centenas de canais que os hotéis normalmente disponibilizam.
Este ano foi exceção e como estou praticamente divorciado da televisão portuguesa, sempre dá para ficar a saber o que se passa “lá fora”. Regra geral acabo sempre por descobrir algumas “pérolas” e desta vez fui surpreendido pela BBC.
O programa chama-se “The Repair Shop” e é atualmente uma das séries mais populares do Reino Unido.
O que é que este programa tem de tão especial? TUDO!
A começar na simplicidade do tema; uma equipa de artesões. Propõe-se a dar uma nova vida a objetos que o tempo se encarregou de retirar de circulação.
Os programas são gravados no cenário único de Weald and Downland Living Museum, um vilarejo situado a sul de Londres (West Sussex) que mais parece ter saído de um conto de fadas.
A história é sempre a mesma; alguém tem em casa um objeto muito deteriorado, estragado, sem funcionar. Dirige-se à “Repair Shop” onde é recebido por um dos 18 especialistas. Cerâmica, fotografia, peles (cabedal), marcenaria, instrumentos musicais, brinquedos antigos, quadros, seja o que for, esta gente agradece, ouve a história de vida que está relacionada como objeto que é apresentado e depois dedica-se com corpo e sobretudo alma, ao restauro da peça. No final, entre lágrimas de emoção e agradecimentos a toda a equipa, o objeto volta para a posse do seu legitimo dono.
Ao longo dos vários episódios que assisti (existem 3 séries e eu já vi pelo menos duas) a “Repair Shop” foi visitada por gente de várias camadas sociais mas sobretudo com idades já muito avançadas. É comum aparecerem senhoras com idade acima dos 90 anos!
As peças que entregam ao cuidado dos restauradores, são as suas memórias, pedaços de uma outra vida e normalmente são acompanhadas de fotografias originais nas quais aparecem avós ou bisavós, histórias que comovem até o coração mais empedernido.
Questiono-me que raio de país é este que conseguiu conservar tantas memórias. Pergunto a mim mesmo, se alguém se lembrasse de fazer uma coisa destas em Portugal, se por acaso apareceria alguém com objetos desta importância. Será que nós estamos a tratar bem a nossa história?
Duvido.
O audiovisual está a viver um período complicado. As operadoras de televisão optaram por balizar por baixo os critérios editoriais e atualmente tudo se resume a uma disputa “estéril” entre uma apresentadora de nome Cristina e o resto do Mundo. Enquanto isso, os canais de streaming (Netflix e companhia) continuam a aumentar a quota de mercado em detrimento dos canais tradicionais.
Ninguém parece importar-se com isso…
Curiosamente o “Repair Shop” é o oposto desta triste realidade portuguesa.
Uma iluminação superior, aliada a um décor único e uns protagonistas que mais parecem verdadeiros atores, transformaram este modelo, num sucesso de televisão e que tem disso partilhado entre a BBC 2 e a BBC 1.
Afinal fazer televisão não é assim tão complicado, basta ser sincero e simples.