A ESTALINIZAÇÃO DA NAÇÃO
O grande líder da classe operária (da União Soviética entenda-se) ficará para a história como um dos maiores precursores da “tinta corretora”!
Penso que é do conhecimento geral, a alteração que Estaline mandou fazer a uma foto registada em 1930. Na foto original, aparecia Nikolai Yezhov (chefe da polícia secreta soviética e que era conhecido como “anão sanguinário”) que entretanto caiu em desgraça junto do grande líder soviético. Numa época em que ainda não havia Photoshop a opção passou por retocar a foto e retirar o “velho” amigo do enquadramento geral.
O mesmo aliás já tinha sido feito com Trotsky uns bons 20 anos antes, depois deste ter perdido uma disputa interna no Partido Comunista, a qual levou Estaline ao poder.
Esta expurga tinha como finalidade reescrever a história.
Estaline desconhecia na altura que anos mais tarde seria inventada uma coisa chamada internet!
Para quem acha que estes acontecimentos são obra do passado, desengane-se.
O canal de televisão SIC, emitiu no passado sábado mais um episódio de “Perdidos e Achados”. Desta vez o alvo foi o “Dia Europeu sem Carros” que por acaso decorre em toda a europa no mês de…setembro, mas enfim…
Os mais novos não devem saber do que estou a falar, mas para o caso convém referir que se trata de uma data/iniciativa que visa promover a mobilidade nas cidades.
Em Portugal, o primeiro “Dia Europeu sem Carros” decorreu em 2000, João Soares era presidente da Câmara Municipal de Lisboa e José Sócrates ministro do ambiente.
Todos os estudos efetuados no dia seguinte ao evento e que tentaram apurar a eficácia da iniciativa, referem uma adesão perto dos 80%. Mesmo as propostas mais arrojadas e as que representavam eventualmente um maior risco de sucesso como em Lisboa por exemplo, resultaram num êxito total. Lembro que João Soares vedou o acesso aos carros numa área compreendida entre o Campo Pequeno e o Cais das Colunas!
Em Portugal a iniciativa foi promovida pelo Ministério do Ambiente e teve no secretário de estado do ambiente, o engenheiro Rui Gonçalves o seu principal coordenador. Do ponto de vista político, esta foi uma das primeiras provas de fogo de José Sócrates dentro do governo chefiado por António Guterres e uma forma de afirmação do seu peso politico que viria a ser confirmado no ano seguinte com a descriminalização do consumo de drogas, mas já lá vamos.
A opinião foi unânime; o Dia Europeu sem Carros em Portugal foi um exemplo para toda a europa e o civismo demonstrado pelos portugueses um exemplo a seguir e a replicar por outros países.
Reparem no dominador comum desta ultima parte do texto – João Soares e José Sócrates.
Pois bem, a reportagem da SIC emitida ontem, consegue esta coisa fantástica de não ter uma única referência a José Sócrates, uma única!
Mas há mais:
Há duas semanas, assinalou-se os 15 anos da descriminalização do consumo de drogas em Portugal.
E é bom que se falem destas coisas, pois o documento continua a ser uma referência mundial, digo bem, MUNDIAL!
A iniciativa de mudar o paradigma das drogas em Portugal tem um único responsável; José Sócrates.
Pode não se gostar, mas há coisas que são mesmo assim. Decorria o ano de 1998 quando o então ministro-adjunto do Primeiro-ministro e que tinha a tutela do Projecto VIDA, a entidade que coordenava a prevenção das toxicodependências em todo o território nacional, teve a ousadia de reunir à mesma mesa alguns dos maiores nomes ligados a esta problemática; o prof. Cândido Agra, João Goulão (presidente do SPTT), o Procurador-Geral Adjunto Lourenço Martins, os psiquiatras Júlio Machado Vaz e Nuno Miguel, a especialista em saúde mental e psiquiatria Maria Manuela Marques, o prof. Alexandre Quintanilha, o psicólogo Joaquim Rodrigues e finalmente Daniel Sampaio que foi também o relator do documento final.
Foi este grupo de personalidades que um ano mais tarde, produziu aquilo a que se convencionou chamar “Estratégia Nacional de Luta Contra a Droga”, um documento pioneiro e inovador apresentado em cerimónia oficial na residência oficial do primeiro-ministro e que estabelecia um novo paradigma na prevenção e combate às toxicodependências, apontando claramente para a despenalização do consumo, situação que se veio a verificar em 2001.
Pois bem, no passado dia 7 o jornal Público refere-se a este acontecimento (os 15 anos da despenalização) e assinala como ponto mais importante desta reforma estruturante…MANUELA ARCANJO, que era na altura a responsável pela pasta da saúde!
Percebo certa animosidade que continua a existir em relação a José Sócrates, o que não posso aceitar é que a História, seja ela qual for, a História enquanto património coletivo, seja despudoradamente reescrita com vista à criação de uma nova realidade.
Eu sei que Putin continua a sonhar com a reunificação soviética, mas Estaline ainda não ressuscitou!