REALIDADE PARALELA
Tal como muitos de vós, também eu estive atento ao discurso que Cavaco Silva ontem proferiu na tomada de posse de António Costa e do XXI Governo Constitucional.
Já muito se disse sobre as palavra ocas e bafientas, com que o chefe de estado resolveu abrilhantar a cerimónia. Tentei relativizar o sentido telúrico das mesmas, mas por mais que tente, não me sai da cabeça um dos episódios mais caricatos da nossa História recente.
Estávamos em 1968…
Salazar já tinha caído da cadeira e Marcello Caetano sucedia ao velho e moribundo ditador na condução dos “destinos patrióticos da Nação”!
No entanto, o séquito bajulador que rodeava Salazar, e numa tentativa de adiar o mais possível a entrada no clube dos órfãos, criou uma realidade paralela, que era alimentada diariamente.
Tal como qualquer produção “Holiudesca”, Salazar era “alimentado” diariamente com noticias que o continuavam a dar como principal protagonista de um País, que de facto já não existia. Foram produzidas edições únicas de jornais, com noticias falsas, noticiários de rádio e reportagens de televisão, tudo para continuar a alimentar o ego masoquista de António Oliveira Salazar e o seu grupo de sanguessugas.
Salazar viveu os seus últimos meses numa realidade paralela.
Era-lhe “vendido” um país que não existia.
O discurso de ontem de Cavaco Silva, fez-me lembrar esta página negra da nossa história.
O actual Chefe de Estado, falou como se fosse ele ainda o responsável máximo do executivo. Fez ameaças e exigências como se dele dependesse o governo da Nação. Compreendo que Cavaco tenha saudades dos anos em que foi primeiro ministro, dos tempo em que uma só palavra sua, fazia cair os mercados bolsistas, dos tempo sem que os portugueses aprenderam que era feio, muito feio, comer Bolo-Rei de boca aberta!
É um facto que devemos elogiar o espirito patriótico e de sacrifício com que esteve na tomada de posse (quase que não se notavam os fios por cima da cabeça que o mantinham em pé), mas à figura máxima do Estado, espera-se que esteja ao nível do cargo que exerce. Espera-se que saiba as diferenças entre o papel de Presidente da Republica e o de Primeiro Ministro.
Nunes Liberato deveria ter-lhe dito isso, pelos vistos esqueceu-se…
Pelo discurso de ontem, Cavaco continua a viver numa realidade paralela.
Que triste fim, para quem à boleia de fazer a rodagem a um carro novo, chegou a primeiro ministro deste País.