Peço a Palavra
Os acontecimentos recentes no ISCTE e que envolveram uma vez mais o ministro Relvas, despoletaram uma onda de solidariedade!
Uns a favor e outros contra, entenda-se. Curiosamente, no Partido Socialista, as vozes que se fizeram ouvir foram de repúdio pela manifestação de estudantes.
Bem… eu estive lá e tenho a minha versão dos acontecimentos.
Antes de mais, convém lembrar o artigo 19 Declaração Universal dos Direitos Humanos de, 1948 (!!!) diz assim: “Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir”
A liberdade de expressão, sobretudo sobre política e questões públicas é o suporte vital de qualquer democracia!
Agora que relembramos todos, o artigo 19, passemos aos factos.
A TVI organizou um debate para comemorar os seus 20 anos.
A TVI “alugou” um espaço público ao ISCTE para a realização desse debate
O ISCTE é um estabelecimento de ensino
A TVI convida Miguel Relvas para encerrar o debate
Sinceramente, estavam à espera de quê????
Mal comparado, era a mesma coisa se tivessem convidado Jorge Nuno Pinto da Costa para declamar umas poesias, numa Assembleia Geral do Benfica!
A questão mais polémica disto tudo prende-se com a liberdade de expressão. Dirão uns, que aquilo tudo foi organizado, outros advogam que não se pode inviabilizar a actividade política com manifestações deste género e que violam a nossa liberdade individual, etc.
Meus caros, eu estive lá, desde as 14 horas, quando cheguei, já toda a gente sabia o que ia acontecer, um ex- assessor do Dr. Jorge Sampaio, perguntou-me se eu estava ali para cantar a Grândola (!!!) mais, na véspera o gabinete do ministro Relvas, foi informado que se preparavam, não uma, mas varias manifestações e a própria TVI sabia o risco que corria, só assim se percebe a falta de controle à entrada do auditório, onde qualquer aluno, qualquer pessoa, podia entrar!
A TVI bem pode contestar a acção desencadeada pelos estudantes ali presentes, mas a TVI nada fez para preservar a segurança e o acto público do ministro Relvas. Esta é uma verdade à qual ninguém, mas mesmo ninguém pode fugir! É verdade que dentro de auditório, estavam estudantes que de uma forma organizada, apuparam e gritaram palavras de ordem e empunharam cartazes contra a politica deste governo, mas… e os outros? Os outros que também se manifestaram e que estavam dentro da sala? Aqueles que já lá estavam desde a manhã?
E que dizer de Relvas? Não o deixaram falar? E ele tentou? Por acaso esboçou em simples gesto para usar da palavra? Não!
Aliás, cada vez se torna mais óbvio que Relvas não tinha nada para dizer aos que estavam naquele auditório.
A vitimização deste governo assumiu papéis degradantes, se a ideia é encontrarem uma “nova Marinha Grande”, tenho uma péssima noticia, Mário Soares regressou à Cidade Vidreira há bem pouco tempo e foi ovacionado de pé!
Relativamente à acção desencadeada por alguns estudantes e prontamente seguida pela grande maioria dos que estavam dentro do auditório, remeto os meus caros amigos para a história, a nossa história.
Quando em Abril de 1969, Alberto Martins pediu para usar da palavra na “Sala de Matemáticas” em Coimbra, os estudantes sabiam o que queriam e não temendo as represálias que se adivinhavam usaram do seu direito universal de protesto e fizeram-se ouvir.
Meus caros, estávamos em 1969, 1969!!!!!!
Para que conste, Américo Tomás e restante comitiva, abandonaram a sala “17 de Abril” a qual foi prontamente “invadida” pelas centenas de universitários que se tinham juntado à entrada e que não conseguiam entrar.
A história volta a repetir-se? Não sei, mas nesta altura sinto um profundo orgulho, por a minha instituição de ensino, ter sido palco de uma manifestação estudantil, que apelou à demissão de um ministro que é o pus de uma ferida que este Governo abriu na sociedade portuguesa!
Dia após dia, este Governo cai em contradições. Diz e desdiz, adia, pára, volta atrás, calunia os que os antecederam e volta a fazer as mesmas coisas. Pactua com negócios pouco transparentes e teima em defender descaradamente os que mais vilipendiaram a sociedade portuguesa.
Hoje voltamos a ser confrontados com mais alterações e contradições à suposta recuperação económica que tantas vezes foi anunciada e que afinal… parece que será apenas em 2014.
Os portugueses atingiram o limite da paciência, os estudantes, tradicionalmente mais propensos a revoltas e a exaltações temperamentais, próprias da idade, mais não fizeram do que dar corpo e voz a esse desgaste, a essa impaciência, a essa revolta.
Afinal de contas, Miguel Relvas estava à espera de quê?